segunda-feira, 30 de maio de 2011

SABOR_E_ANDO: passeio-convívio do Felgar a Silhades, no passado sábado

Felgar - vista geral, à saída do caminho para o vale de Moinhos (clicar sobre as fotos para AMPLIAR)

Conforme aqui anunciámos, realizou-se no passado sábado, dia 28 de Maio, um convívio promovido pela UDF (União Desportiva do Felgar), integrando uma prova de pesca desportiva e caminhada pelo vale do ribeiro dos Moinhos, culminando num almoço-convívio junto ao rio Sabor, nas proximidades de Silhades, onde se juntaram mais de centena e meia de participantes.
A organização esteve impecável e todos os participantes ficaram satisfeitos. Aqui fica a reportagem fotogáfica desta inolvidável jornada:
Início do percurso, quando a energia ainda era muita.

A descer todos os santos ajudam...
Aproveitando para a amena cavaqueira...
Um dos muitos moinhos já abandonados...
Os caminheiros serpenteando em direcção ao rio...
Mais um belo moinho, este recuperado para casa de campo de um felgarense de bom gosto e amigo da natureza.
Construção em ruínas, esperando o dia da submersão...
Silhades à vista, espreitando por entre o arvoredo - uma visão que dentro em breve só ficará pelas fotografias...
A tranquilidade do Sabor, plena de bucolismo, apesar de já sem ninfas...

A velha azenha que, como um barco de pedra, cortou e venceu tantas vezes as águas do terrível rio, espera agora com ar derrotado o último momento...

O ponto de chegada é um oásis aprazível, sob freixos e choupos, qual Éden onde se esquece a tenebrosa "Crise"...


Lembrando as festas de S. Lourenço de há uns anos... Por quanto tempo mais, aqui, neste lugar, é possível desfrutar estes momentos de Felicidade terrena? E a para animar a malta, ouviram-se os acordes do grupo dos "Aúpas", com Manel Salgado dedilhando o seu cavaquinho...


Aos amigos do Felgar dedico este breve registo, para memória futura - com um grande abraço de incentivo para que se continue a fazer esta jornada enquanto ainda for possível.

domingo, 29 de maio de 2011

Quadros da transmontaneidade (46)

Malhado que estava o primeiro eirado, atadas que foram as fachas, quase sempre levantadas pela criançada, as mulheres, sempre agachadas, apoiando a mão canhota no joelho do mesmo lado, não perderam tempo a varrer o grão para o canto da eira.
E ainda a tarefa feminina estava a meio já braços fortes, em mangas de camisa, eiravam novamente os molhos na fraga feita eira. Nova manta aloirada se formou.
Os homens pousaram o copo, por onde todos “boberam”, e inverteram-no sobre o gargalo do garrafão de vinho que esconderam à sombra da meda. Cuspiram nas mãos, novas linhas de malhos se ergueram com sabedoria, sem nunca bater no homem do lado e um novo ciclo de batimentos sincrónicos ecoaram em todos os cantos da terra.
Surgiram rodos em auxílio das vassouras que, em sucessivos varrimentos, iam engrossando a pirâmide de cereal acantoada na eira, dir-se-ia pacientemente, esperava pela tardinha, para ser atirada à brisa de fim de tarde e se libertasse do coanho e das espigas que as “bassouras” de esteva nem sempre conseguiam.
A meda diminuía e para satisfação do ti Adelino o monte de grão aumentava.
A merenda já lá vinha na cesta mercada ao ti Celestino.

António Sá Gué

(Continua...)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Convívio - do Felgar até ao Rio Sabor

(Clicar sobre o cartaz para AMPLIAR)

A associação U.D.F. (União Desportiva do Felgar) promove no dia 28 de Maio, já no próximo sábado, ou seja, AMANHÃ, um convívio que inclui concurso de pesca, passeio pedestre e almoçarada, com início pelas 8;00h.
A inscrição é de 10€, aberto a todos os pucareiros e não só!!
Não faltem!

Cri... cri...cri


Antes da cigarra e mais contido no canto, o nosso "melrinho" das tocas, apesar da crisilândia, nunca se sente "grilado" e ensina-nos a boa disposição.

N.B. Depois da recolha de imagens, voltei a pô-lo na toca.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

VIII Encontro de Professores de Português no Agrupamento de Escolas deTorre de Moncorvo

Realizou-se no passado dia 25 de Maio no Agrupamento de Escolas de Torre de Moncorvo, o 8º. Encontro de professores de Português, organizado pelo respectivo grupo, biblioteca escolar e Direcção da escola.
Além de intervenções dos organizadores (Drs. Alberto Areosa, Teresa Leonardo, Delfina Afonso, José Brás, Olinda Brás, entre outros) e da participação de alunos e professores, foram convidados três escritores com ligações à região trasmontano-duriense, a saber: Rentes de Carvalho (natural de V. N. de Gaia, mas oriundo de Estevais de Mogadouro), António Sá Gué (natural de Carviçais, concelho de Torre de Moncorvo) e Leónida Oliveira (concelho de Lamego).
Aqui fica a reportagem:

Momento de abertura da sessão pelo director do agrupamento de escolas, Dr. Beto Areosa. Na mesa, à sua direita, a profª. Teresa Leonardo; à sua esquerda: Professor Rentes de Carvalho, tenente-coronel António Lopes (A. Sá Gué) e professora Leónida Oliveira.

Participação dos alunos: um jovem faz o papel de Luís de Camões, lendo um texto "auto-biográfico", enquanto outro colega leu um poema do autor evocado.

Entre vários outros escritores, este foi o momento de Mário de Sá Carneiro, com um "actor" bem escolhido e caracterizado, secundado pela colega que leu um texto do poeta modernista.

E para além de Sá Carneiro, não podia faltar o seu amigo F. Pessoa, igualmente muito parecido. Estes alunos fazem parte do Clube de Leitura da escola e foram caracterizados pelos dinamizadores do grupo de teatro Alma de Ferro, de que é encenador o prof. Américo Monteiro.

O prof. Américo Monteiro e D. Esperança Moreno preparando-se para ler textos de Rentes de Carvalho (da obra "O rebate" e "Com os holandeses") e de A. Sá Gué ("Contos dos montes ermos").

É passada a palavra aos ilustres escritores convidados, com destaque para a intervenção bastante aguardada do professor Rentes de Carvalho. O emérito escritor falou da sua experiência de vida, do modo como viu e vê a Holanda (país onde passou a maior parte da sua vida) e de como este povo nos vê a nós, além de outros estrangeiros. Referiu-se à sua obra, tendo depois passado a palavra ao público, para uma breve sessão de perguntas e respostas.

Seguidamente falou o escritor António Sá Gué, tendo escolhido como tema a língua portuguesa no Mundo, procurando responder à questão: para onde caminha a língua portuguesa? - acabando a fazer a apologia do novo acordo ortográfico que se pretende implementar - no que foi contraditado pelo escritor e jornalista moncorvense Rogério Rodrigues que se encontrava na plateia.

Ainda sobre o tema do Português no mundo (tema genérico deste Encontro), falou ainda a profª. Leónida de Oliveira, autora de um livro de poesia intitulado "Cumplicidade".

O Encontro terminou com um convívio e merenda no espaço da cantina escolar.

As nossas felicitações à organização, por dar continuidade a estes encontros dos Professores de Português, iniciados em 1999.


Txt. e fotos de N.Campos

domingo, 22 de maio de 2011

Quadros da transmontaneidade (45)

As malhas

Antes do primeiro golpe de malho, dir-se-ia iniciático, acometido pelo Ti Adelino, que introduzia e determinava a hora dos trabalhos o ” Deus nos ajude!” que o Ti Joaquim não dispensava, sempre seguido pelo sinal da cruz que desenhava sobre a face, fosse qual fosse o trabalho, bem podiam ser considerados o signos de Harmonia entre eles e o seu mundo. Antes de arrancar a Força dos seus braços, já carcomidos pelo tempo, era imperioso verificar o aperto dos pírtigos (eventualmente substituí-los), aos fatos de atanado grosseiro, bem presos à amengoeira mas já ressequidos pelo uso e pelos anos.
E, aberto o dia de canseira, mas simultaneamente de festa, que se adivinhava, verificados que estavam todas as alfaias de trabalho, era altura de todos tomarem os seus lugares.
Agora, era tempo de se colocarem lado a lado, em linha, como se fossem apenas um, porque só a unidade faz força, era tempo de, em ritmo cadenciado, malhar com força, beleza e sabedoria as aloiradas espigas que cobriam toda a fraga. O som dos malhos fortalecido pela unidade penetrava nas suas entranhas e a reverberação produzida, ampliada pelas paredes dos palheiros envolventes, como se fossem caixa-de-ressonância, era um ronco grave e profundo, de dor, como se ela compreendesse os homens que, sem pararem, empinavam ritmicamente os pírtigos e, aos sons guturais de oh… oph… oh… oph… que lhe saiam espontaneamente pelo esforço dispendido, esmagavam as espigas ressequidas.
Com uma rectidão que impressionava, seguiam as fieiras da manta aloirada que cobria a eira em ambos os sentidos: ora em frente, ora às arrecuas. Nada os detinha, nem mesmo o Sol que já se erguia e mostrava a sua possança.
As espigas maceradas pelos malhos desafiavam a gravidade, os grãos desbagados soltavam-se e também eles, durante breves instantes, saraivavam a palha de onde se tinham acabado de libertar.
Aos seus ouvidos chegavam-lhe os sons da malhadeira que na fraga do quebra-cu que, com uma fome medonha, devorava todos os molhos introduzidos.

(Continua…)

António Sá Gué

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Hoje é Dia Internacional dos Museus - visite o nosso!!

O Dia Internacional dos Museus foi criado em 1977, sob proposta do ICOM (Conselho Mundial dos Museus), organismo da UNESCO, tendo em vista a promoção dos museus e da valorização do seu papel cultural e social, fomentando o encontro dos públicos com estes espaços, simultaneamente de (in)formação, aprendizagem e recreio.
Neste dia, o Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, à semelhança dos anos anteriores, promove entradas GRÁTIS para quem pretenda visitar o Museu e seus espaços.
Os visitantes, além da exposição permanente dedicada ao Ferro poderão ainda visitar a Exposição temporária de escultura em ferro, de autoria de Plácido Souto (artista que começou a sua carreira profissional como ferreiro), além dos jardins do museu.


Da parte da tarde será realizado um convívio com os nossos idosos do centro de dia da Misericórdia, mas o mesmo é aberto a todos os que nele pretendam participar. Serão recriadas actividades tradicionais e haverá lugar ao registo de memórias de outros tempos.


Por isso, hoje, 18 de Maio, apareça pelo Museu do Ferro - fica a proposta!


Fotos: N.Campos/arquivo do MF&RM

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quadros da Emigração – Ósculo

Chamando-se Castanheirinho,
Inertes Lhe morreram as galhadas tenras.

Pejado pela chuva e ventoso,
O ósculo chegara-Lhe numa manhã de Abril,
Pela boca voraz e o riso aparatoso
Do pleno ribombar da euforia primaveril.

Chamando-se Castanheirinho,
Inertes Lhe morreram as tenras galhadas.

Ficava a (outra) Vergôntea a tremeluzir
A fragilidade translúcida da verdura
Que, sob os raios de luz, se veio a traduzir
Numa imagem real de candura:

É o ventre do minério rasgado da Serra
Que de novo procria,
É o bafejo doce, cálido e fulvo da terra
Que tudo recria!

Chamando-se Castanheirinho,
Também Lhe (re)nasceram galhadas tenras...


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Quadros da transmontaneidade (44)

As malhas

Burro velho não toma andadura, bem podia ser o dito que assentava na perfeição ao Ti Adelino. Coitado, agarrado à tradição, afeiçoado a um outro mundo, que ninguém lhe falasse em malhadeiras. Não era naquela traquitana que entrava o seu trigo, nem mesmo o centeio. Nem as animálias o comiam como deve ser. Há anos que malhava com a ajuda do Manel do Canto e do Joaquim da Eira, amigos de sempre, e não era agora, aos sessenta, que ia mudar. Nem pensar! Já tinha feito constar que na próxima terça a laje estava por sua conta. A mulher, a Manuela, na véspera, pela noitinha, já pela fresca, depois de lhe dar a malga de caldo que ele devorou em ruidosos sorvos, foi varrê-la com a vassoura de esteva que tinha amanhado, no caminho de regresso a casa, nessa mesma tarde. Varreu-a de alto a baixo: todas as cagalhetas das cabras e as palhas avelhentadas que se acumulavam nos refegos da fraga foram amontoadas numa ponta, para que, na manhã seguinte, se eirasse pela primeira vez bem cedinho.
E assim foi. Mal o Sol amarelou o cocuruto da medas, onde o Ti Joaquim se encarrapitava para tirar os primeiros molhos, fez-se o primeiro eirado. Um a um, os molhos foram sendo desatados e, com mestria, espalhados em longas esteiras sobrepostas, na miraculosa e imponente fraga e que o Ti Adelino acreditava ali ter sido colocada, por sapiência divina, de propósito para aquele fim. A fraga era agora uma manta de longos retalhos de espigas loiras. As anfractuosidades desapareceram, tornou-se ainda mais uniforme. As tiras de espigas sobrepostas davam-lhe um alinhamento, uma continuidade e uma graciosidade que, aos olhos da criançada, nunca devia desaparecer e onde era apetitoso brincar.

(Continua…)

António Sá Gué

terça-feira, 10 de maio de 2011

Passeio pedestre e convívio na capela de N. Senhora da Esperança

Caminhada a pé, pelo caminho velho de Moncorvo para Açoreira e Pocinho.

Conforme anunciado (e depois do adiamento por motivos de mau tempo, no dia 30 de Abril), realizou-se no passado domingo, dia 8, o passeio pedestre à capela de N. Senhora da Esperança, na freguesia de Torre de Moncorvo, tendo havido transporte especial para os mais idosos.
Aqui fica um breve registo de alguns momentos:
A visita começa sempre pelo interior da capela, em cujo altar-mor se venera a imagem de N. Srª. da Esperança.

Alegre criançada saltando à corda...


Enquanto as pessoas mais idosas descansam e conversam...

Aspecto dos jogos populares: lançando a malha...

Outra vista do convívio em redor da capela, enquanto se espera pela merenda...




Bem, a Pascoela já passou, mas conta a intenção... de manter acesa a Tradição. - Para o ano há mais!
Fotos de N.Campos e Luís Lopes


domingo, 8 de maio de 2011

Livro "De Cabinda ao Namibe", de Adriano Vasco Rodrigues, apresentado em Torre de Moncorvo

Depois do lançamento no Porto (na Biblioteca Almeida Garrett, em 26.11.2010) e, mais recentemente, na Guarda, teve lugar no passado sábado, dia 7 de Maio, a apresentação do livro De Cabinda ao Namibe, de autoria do Professor Adriano Vasco Rodrigues.
A sessão foi aberta pelo Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, que recordou a longa relação de amizade com o Prof. Adriano Vasco Rodrigues, que, segundo disse, conhece "desde pequeno", pois o Prof. Adriano casara no Felgar com a Drª. Maria da Assunção Carqueja, vindo aí diversas vezes, pelo que se tornara um amigo de sua família, também do Felgar. Aires Ferreira aproveitou para fazer uma breve apresentação do autor da obra, destacando o seu contributo como historiador e arqueólogo (com alguns trabalhos sobre o concelho de Torre de Moncorvo), como pedagogo, tendo dirigido uma escola superior de educação na Bélgica (Möll), e também no plano da intervenção política, como deputado e governador civil da Guarda, distrito em que se situa a sua terra-natal, Longroiva.
De seguida tomou a palavra o editor da obra, Dr. Jorge Fragoso, responsável da editora Palimage, que disse ter ouvido falar, pela primeira vez, do nome do professor Adriano, quando ainda era aluno do Liceu D. Manuel II (depois Rodrigues de Freitas), no Porto, na medida em que eram conhecidas as suas inovadoras experiências pedagógicas em outro liceu da cidade, o Garcia da Orta, tido como referência vanguardista, onde havia uma maior relação de proximidade entre professores e alunos. Além disso, o Professor Adriano Vasco Rodrigues era também autor de um conhecido manual de História do curso geral de liceus.
Quanto ao livro ora editado, disse que o apreciou particularmente, quer por também ter nascido em África, quer pelo seu conteúdo, sendo um livro que "enche e preenche", o que o levou a empenhar-se bastante no seu tratamento gráfico. Mais adiantou que já está prevista uma 2ª. edição, com um acrescento final. A apresentação da obra coube à Doutora Adília Fernandes, que fez um resumo do seu conteúdo, de certo modo um livro de memórias da experiência do autor, entre os anos de 1965 e 1969, investido numa missão educativa, mas que não se ficou por aí, tendo-se dedicado também à investigação histórica, arqueológica e antropológica. Procurando situar o autor e a sua missão no contexto dessa época, afirmou que o Professor Adriano Vasco Rodrigues "vai para Angola empenhado na construção de um mundo novo, multirracial", tendo aí organizado os primeiros cursos do ensino preparatório, tendo ainda elaborado modelos pedagógicos e didácticos sem paralelo em qualquer outro país de África, nesse tempo. Não se tendo limitado a ser um burocrata de gabinete, o Professor Adriano percorreu todo o território de Angola, como inspector escolar, tendo o somatório das suas viagens totalizado mais de 300.000 km, num carro Volkswagen (que figura na capa do livro), tendo então, nessas andanças, registado muitos aspectos da paisagem, da História, da Arqueologia, e da Antropologia angolana, que entretanto indagou, como a pedra da "Torre do Tombo" (Moçâmedes), o túmulo do Zé do Telhado, no antigo presídio das Pedras Negras, os túmulos dos sobas da Kibala, etc.. Além de anotar outros pequenos "flash's" como a estória do faroleiro Simão Toco, fundador da seita do "tocoísmo", e que encontrou confinado no Sul de Angola.
O aprofundamento das questões arqueológico-históricas levam-no a elaborar a 1ª. Carta Pré-histórica de Angola, tendo realizado escavações, nomeadamente nas ruínas de um antigo embarcadouro de escravos para o Brasil, e no deserto do Namibe, onde localizou os destroços de uma embarcação da carreira das Índias.


Finalmente foi a vez do autor nos brindar com o seu depoimento, no discurso directo, discorrendo sobre a sua longa relação com as terras de Moncorvo, os trabalhos realizados antes da sua experiência africana, e, depois, a sua partida para Angola, frizando as dificuldades e obstáculos que aí encontrou, sobretudo em certos sectores da Administração. Mais disse que "nunca acreditei que nos mantivéssemos em Angola por muito tempo", razão pela qual era imperioso fixar aí a língua portuguesa, não só como instrumento de unidade do território angolano (onde se falavam 29 línguas ou dialectos), mas também como um futuro elo de ligação com Portugal. Referiu-se depois a inúmeros episódios da sua passagem por Angola, como o dos guerrilheiros que o ajudaram a mudar um pneu do carro, algures numa zona de terrorismo, e quando ele e os acompanhantes julgavam já que iam ser mortos - tendo atribuído o facto de terem escapado, ao respeito tido pela sua função educativa.
Em jeito de conclusão afirmou: "este livro relata as minhas vivências e a minha experiência em Angola. Foi uma grande experiência..."
O préfácio é de autoria do major-general A. Pires Veloso, amigo, conterrâneo e contemporâneo do autor.
Da nossa parte diremos apenas que foi uma honra e um previlégio ter lido, com muito agrado, a 1ª. versão deste livro, ainda antes de ser editado. No seguimento de uma conversa com o Sr. Professor Adriano Vasco Rodrigues, sobre o navio perdido no deserto de Moçâmedes, a Sul de Porto Alexandre (a que hoje chamam Tombwa), tendo conversado também sobre os concheiros que havia entre as dunas do deserto, o Sr. Professor deu-nos um excerto dessa odisseia da descoberta e escavação da referida embarcação, algo distanciada da linha actual da costa, onde fazia uma interpretação histórica sobre este naufrágio, numa belíssima narrativa que se lia como romance de acção, embora fortemente sustentada em documentos do séc. XVIII, do arquivo histórico de Angola.
Pouco tempo depois, em Setembro de 2007, o Professor Adriano enviou-nos o texto completo do livro (inédito) de onde retirara o excerto, exemplar único devidamente encadernado, para o caso de conseguirmos meios para a sua publicação. Ainda falámos desta possibilidade a um professor da Faculdade de Letras do Porto, ligado ao Centro de Estudos Africanos dessa Faculdade, mas não nos foi possível concretizar o contacto. Por fim, em Outubro de 2009, sabendo que se iria realizar uma Homenagem ao Sr. Professor Adriano por parte da Câmara Municipal da Guarda e de outras entidades desse distrito, sugerimos ao município de Torre de Moncorvo uma iniciativa análoga, envolvendo também a Drª. Assunção Carqueja. E entregámos o exemplar inédito, cujo título inicial era "Pedras Negras" (com Pungo Andongo em sub-título), numa alusão ao famoso presídio do séc. XVII, para onde viria a ser mandado o Zé do Telhado. Assim, foi com a maior satisfação que soubémos, em Novembro de 2010, que o livro fora já publicado e com o apoio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, o que merece o nosso aplauso.


Esta obra vem completar a extensa bibliografia do Professor Adriano. Lê-se como um livro de aventuras e é um depoimento formidável de uma personalidade de excepção que (se) cruzou (com) a terra angolana e aí deixou (também) a sua marca, num momento crucial da história desse território. Trata-se ainda de um olhar que importará aos estudiosos das coisas de Angola, mas também aos que se dedicam à história contemporânea portuguesa, pouco anterior ao 25 de Abril de 74.
..
Texto e fotos: N.Campos

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Passeio pedestre à capela de Senhora da Esperança, é no domingo:

(clicar duas vezes sobre o cartaz - para AMPLIAR)


Não se tendo realizado o passeio da Pascoela previsto para o passado dia 30 de Abril, por motivos climatéricos, a organização decidiu adiá-lo para o próximo Domingo, dia 8 de Maio, esperando que, desta feita, o tempo ajude.


Esta iniciativa da Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, conta com a colaboração do Museu do Ferro (parceria Câmara Municipal de Torre de Moncorvo/PARM), inserindo-se no esforço de recuperação das antigas tradições e também de divulgação do nosso património, visto que a capela de Senhora da Teixeira (propriedade da Junta de Freguesia) remonta possivelmente ao séc. XV.


O trajecto terá início às 14;30h (convém estar um pouco antes), com saída de frente do edifício da Junta (ao lado do Cine-teatro), e seguirá pela E.N.220 até ao início do "caminho velho" para Açoreira. Este caminho terá a ver com um dos "milhentos" trajectos seguidos pelos peregrinos de Santiago de Compostela, pelo que se poderá considerar também como Caminho de Santiago. Se bem que o destino desta nossa "peregrinação" seja mais breve e com destino a uma capela de outra invocação: Senhora da Esperança - que bem precisa é, nos tempos que correm...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quadros da transmontaneidade (43)

As malhas

Quando conheci o Ti Adelino, já não podia com um gato pelo rabo, mas mesmo com aquela idade, nunca deixou de semear. Quando se casou com a Adelina, e nos anos que se seguiram, ainda a força braçal estava com ele, nunca deixou decrua por fazer, nitrato por deitar, sementeira por semear. Afora os anos de pousio, que a terra era pobre e precisava de descansar, nunca permitiu que giesta ou esteva entrasse nos tapados que possuía. Mas agora, agora que já não dava um passo sem dar um “ai”, fazia apenas aqueles que eram dele. Sim, porque nessa altura fazia os dele e os dos outros, alguns, alguns! (quase todos), eram arrendados ao Ti Pinto Rico. Agora, semeava trigo no tapado das Devesas, que tinha recebido de herança dos pais, e de centeio uma courela lá para o lado dos Marmeleiros que tinha mercado ao Ti Joaquim de Mós.
Já tudo lhe custava fazer, até subir ou descer da burra Ruça, que não conseguia fazer sem procurar uma pedra para degrau, era uma canseira, mas ter a tulha vazia era sinónimo de fome. Por isso, arrastava-se na sementeira, na monda, na ceifa, nas malhas nem se fala, mas nunca permitiu que a mulher quisesse amassar e não tivesse grão para moer na moagem do Estácio, que o moinho do Morgado Manco,onde sempre moeu, já não existia.

Continua...

António Sá Gué